O brinco de argola tem uma longa e colorida História de séculos, e continua ainda hoje a evoluir. As argolas são um acessório bastante comum e no qual não se pensa muito, mas nem sempre foi assim. Em Portugal não tem grandes conotações, mas nos Estados Unidos, afro-americanas e hispânicas tiveram de lutar contra o estigma que apelidava o seu estilo de "do gueto" e reivindicar o seu direito de usarem argolas sem preconceitos.
Este simples acessório foi um símbolo do "poder negro" nas décadas de 1960 e 1970. Garantia aos piratas um enterro adequado nos séculos XVII e XVIII. Era um símbolo do estatuto régio no antigo Egito. E há mais!
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Os primeiros brincos de argola descobertos por arqueólogos têm cerca de 4500 anos. Foram encontrados num cemitério real da Suméria datado de 2500 a.EC. A foto mostra os brincos e o toucado que uma aia da rainha Pu Abi teria usado. A Suméria foi uma civilização antiga na Mesopotâmia, situada no atual Iraque.
Os brincos de argola também estão profundamente enraizados na cultura africana. Este relevo em pedra de 1348 a.E.C retrata dois guerreiros núbios usando brincos.
Os antigos soldados persas também usavam um único brinco de argola em cada orelha. Este relevo de pedra do século V a.E.C. mostra um escudeiro do Rei Dário, o Grande, um dos primeiros Reis de Reis da Pérsia.
Na Grécia, Roma e Egito antigos, o brinco de argola de ouro era um símbolo de estatuto usado por homens e mulheres. No antigo Egito, os gatos eram o animal mais sagrado e venerado e até eles usavam brincos de argola!
A realeza egípcia usava argolas grossas e pesadas feitas de ouro para assinalar o seu estatuto social. Eram usados com mais frequência por mulheres, mas os homens importantes às vezes também usavam uma argola.
As argolas eram usadas em toda a Grécia antiga, começando por volta do século 5 a.E.C. Os gregos costumavam usar pedras preciosas na sua joalharia e podem ter sido os primeiros a fazer um brinco de argola incrustado de diamantes.
Os gregos raramente usavam argolas simples e muitas vezes gravavam-nas com símbolos associados aos seus deuses.
Os brincos de argola na Roma antiga eram muito semelhantes em estilo aos usados na Grécia Antiga. Na verdade, os gregos produziam a maioria dos brincos usados pelos romanos.
As argolas tornaram-se particularmente significativas durante o domínio de Júlio César, que as transformou num símbolo de estatuto.
Na cultura indiana, deuses e deusas hindus são frequentemente retratados usando brincos de argola. Esta pintura das deusas Lakshmi e Sarasvati mostra ambas usando grandes brincos de argola ornamentados.
As mudanças na moda na Idade Média tornaram os brincos desnecessários e perderam popularidade na Europa. Golas altas e rufos (gola de tufos engomados) estavam na moda, assim como chapéus e toucados que cobriam as orelhas.
A comunidade seguinte a adotar os brincos de argola foram os piratas! Durante os séculos XVII e XVIII, os piratas começaram a usar argolas de ouro e prata. Mas além da estética, tinham também uma funcionalidade prática.
Diz-se que usavam esses brincos valiosos para que, não importa onde morressem ou onde os seus corpos dessem à costa, as argolas pudessem ser usadas para pagar um enterro adequado.
No Japão do século XIX, era tradição que homens e mulheres da etnia aino usassem grandes brincos de argola. Os Ainos são um grupo étnico japonês indígena cuja História é relativamente desconhecida, mas residem no norte do Japão há séculos.
A sua cultura é significativamente diferente do resto do Japão, principalmente no que toca à aparência. As mulheres fazem tatuagens nos lábios quando se tornam adultas e costumam usar grandes brincos de argola.
O povo Hmong do Vietname é outro grupo étnico único com um estilo muito expressivo. É conhecido pelos seus trajes tradicionais de panos ricamente tecidos e cores brilhantes.
Os brincos de argola grandes e ornamentados também são uma parte importante da sua cultura até hoje.
Os brincos de argola foram passados de geração em geração, mudando de estilo e significado. Isso é particularmente verdadeiro para mulheres de ascendência africana ou hispânica.
Josephine Baker foi uma famosa cantora e dançarina afro-americana que viveu em França durante a era do jazz. Durante a sua longa vida, também foi uma ativista dos direitos civis e falou na marcha de 1963 em Washington. Foi a única m u l h e r a falar nesse dia, quando Martin Luther King Jr. fez o seu discurso mais famoso.
Baker usava brincos de argola grandes e ornamentados com frequência, tanto no palco como fora dele, e faziam parte do seu visual de marca.
Nos anos 60, as argolas eram muito usadas por ativistas do movimento pelos direitos civis que adotaram um estilos afrocêntrico como um símbolo de força. Na foto, a ativista e autora Angela Davis fala num um comício pelos direitos civis.
A era disco foi impulsionada por cantoras negras que costumavam usar argolas, como Diana Ross (na foto). O estilo espalhou-se além das fronteiras culturais para todos os amantes do género musical.
Cher e outros artistas que frequentavam discotecas como o famoso Studio 54 em Manhattan costumavam usar argolas durante este período.
Na cultura ocidental, muitos ficam chocados quando vêem bebé com orelhas f u r a d a s, mas é uma tradição e um rito de passagem na América Latina, Índia, África e muitos outros lugares. Kylie Jenner gerou um grande debate quando furou as orelhas da sua filha Stormi quando esta era apenas recém-nascida.
F u r a r as orelhas de um bebé não é apenas uma questão estética, é uma tradição de longa data que remonta aos astecas e, em alguns casos, é até um ato religioso. Karnavedha, por exemplo, é uma cerimónia hindu que envolve a perfuração das orelhas de uma criança.
Muitas pessoas de cor que vivem nos EUA ou na Europa são sujeitas a julgamentos por furarem as orelhas dos seus bebés e são consideradas irresponsáveis e de mau gosto. As mulheres que crescem usando brincos de argola nessas culturas são frequentemente vistas como "do bairro", o que aumenta o estigma.
A cultura hip-hop dos anos 80 e 90 viu um ressurgimento do brinco de argola na cultura popular, mas os afro-americanos e hispânicos nunca pararam de os usar. Quem estava de fora viu esta tendência como um “estilo de rua” ousado, sem apreciar a longa História e tradição deste acessório.
Muitas mulheres em posições de poder trabalharam para reabilitar o brinco de argola, quebrando o estigma e mostrando que não é "impróprio no local de trabalho". Sonia Sotomayor foi a terceira m u l h e r na História do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, e a primeira m u l h e r de cor de todos os tempos. Foi aconselhada a não usar argolas e batom vermelho durante as audiências, mas ignorou esse conselho.
Hoje em dia, aparentemente toda a gente usa brincos de argola sem pensar duas vezes nisso, mas estrelas como Beyoncé costumam usá-los para passar uma mensagem. Esta incrível indumentária que ela usou durante a sua atuação nos Grammys de 2017 faz referência à deusa africana Oxum, que representa a fertilidade, o amor e a sensualidade na religião ioruba.
É difícil mencionar brincos de argola sem pensar em Jennifer Lopez. Na sua famosa canção de 2002, Jenny from the Block, ela ostenta enormes aros de prata com um casaco de pele branco, prestando homenagem às suas raízes hispânicas no Bronx. Lopez defendeu os brincos de argola ao longo da sua longa carreira, no palco, na rua e na passadeira vermelha.
Fontes: (Refinery29) (Editorialist) (Coomi) (Roma Jewelry) (Jewelry Auctioned)
Veja também: A evolução das poses fotográficas ao longo dos anos
A História do brinco de argola
Uma breve exploração da complexa História da argola
Moda Joalharia
O brinco de argola tem uma longa e colorida História de séculos, e continua ainda hoje a evoluir. As argolas são um acessório bastante comum e no qual não se pensa muito, mas nem sempre foi assim. Em Portugal não tem grandes conotações, mas nos Estados Unidos, afro-americanas e hispânicas tiveram de lutar contra o estigma que apelidava o seu estilo de "do gueto" e reivindicar o seu direito de usarem argolas sem preconceitos.
Este simples acessório foi um símbolo do "poder negro" nas décadas de 1960 e 1970. Garantia aos piratas um enterro adequado nos séculos XVII e XVIII. Era um símbolo do estatuto régio no antigo Egito. E há mais!
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